segunda-feira, 16 de abril de 2012

Entendendo a Baixa Visão (Visão Sub-Normal)

Para entendermos melhor uma pessoa com Visão Sub Normal ou Baixa Visão, primeiro vamos entender como funciona o olho e saber a diferença  de uma pessoa “normal” e outra com Baixa Visão 

(O texto abaixo foi retirado do site SAPO)

1.ª parte:
Anatomia do Olho e Fisiologia da Visão

Quais são as partes do globo ocular?
O globo ocular está situado dentro de uma cavidade óssea e possui aproximadamente 24 mm de diâmetro anteroposterior e 12 mm de largura.

ANEXOS OCULARES: As sobrancelhas, os cílios e as pálpebras são protectoras do globo ocular. Impedem que partículas, como poeira, caiam dentro do olho. As pálpebras também têm como função a distribuição da lágrima, ocorrida durante o piscar.

Anexos do globo ocular

A conjuntiva é uma película vascular que recobre a esclera na porção visível, até à córnea. Também recobre a parte interna das pálpebras inferiores e superiores.

Os músculos - cada olho possui seis músculos que possibilitam sua movimentação para os lados. Quando os músculos funcionam, normalmente os dois olhos estão sempre mirando na mesma direcção. Mas se algum músculo não funciona bem, ocorre o estrabismo ou vesguice.

APARELHO LACRIMAL: a glândula lacrimal fabrica a maior parte da lágrima que banha o olho. No canto interno da pálpebra (próximo ao nariz) existem um orifício e um canal que levam a lágrima já usada para o nariz. A lágrima serve para limpar, facilitar o acto de piscar e nutrir o olho.

Globo ocular

CÓRNEA: é uma membrana transparente, localizada na frente da íris. tem como funções permitir a entrada de raios de luz no olho e a formação de uma imagem nítida na retina. Seria como a lente da máquina fotográfica.

ÍRIS: disco colorido com um orifício central (chamado PUPILA - menina dos olhos). Sua função é controlar a quantidade de luz que entra no olho: ambiente com muita luz faz fechar a pupila; ambiente com pouca luz faz dilatar a pupila. Exerce a função idêntica ao diafragma de uma máquina fotográfica. [...]

CRISTALINO: lente biconvexa, transparente, flexível (capaz de modificar a sua forma), localizada atrás da íris. Sua função é focar os raios de luz para um ponto certo na retina.

RETINA: camada nervosa, localizada na porção interna do olho, onde se encontram células fotoreceptoras (CONES, responsáveis pela visão central e pelas cores, e BASTONETES, responsáveis pela visão periférica e nocturna). Sua função é transformar os estímulos luminosos em estímulos nervosos que são enviados para o cérebro pelo nervo óptico. No cérebro essa mensagem é traduzida em visão.

CORÓIDE: é uma camada intermediária, rica em vasos que servem para a nutrição da retina. A região da retina, responsável pela visão central, chama-se MÁCULA, na qual se localizam os cones.

HUMOR VÍTREO: é uma substancia viscosa e transparente, semelhante a uma gelatina, que preenche a porção entre o cristalino e a retina.

HUMOR AQUOSO: é um líquido transparente, que preenche o espaço entre a córnea e a íris. Sua principal função é a nutrição da córnea e do cristalino, além de regular a pressão interna do olho.

ESCLERA: é a parte branca do olho. Sua função é a protecção ocular.

Como enxergamos?

O estimulo visual do olho até ao cérebro: As imagens e os raios de luz atravessam a córnea, o humor aquoso, a pupila, o cristalino e o humor vítreo. Todos esses meios devem estar transparentes para que a luz possa passar por eles e chegar à retina. Da retina, são encaminhados para o cérebro através do nervo óptico.

Nos primeiros anos de vida, qualquer diminuição da transparência das estruturas a serem atravessadas pela luz ou formações de imagens fora da retina pode ocasionar deficiência visual irreversível. Por isso a necessidade da retina e do cérebro receberem estímulos visuais nítidos desde o nascimento.


2.ª parte:
Doenças oculares que acarretam baixa visão na criança

Quais as doenças que mais afectam a visão da criança e como a afectam?

1) Catarata congénita: é a opacificação do cristalino - presente ou desenvolvida logo após o nascimento. A catarata impede a passagem da luz para a retina, provocando baixa visão. Pode ser ocasionada:
- por uma infecção durante a gestação, como por exemplo, o vírus da rubéola;
- ser hereditária ou
- por trauma durante o parto.
A catarata tem diferentes intensidades e a cirurgia deve ser indicada quando a visão for prejudicada. As cataratas congénitas de grau avançado devem ser operadas nas primeiras semanas de vida. A não ser que ocorram outras complicações, a acuidade visual vai se manter ou até mesmo melhorar com o tempo.

2) Glaucoma congénito: aumento da pressão interna do olho causado por uma anomalia na eliminação do humor aquoso. A criança apresenta aumento do globo ocular, muita sensibilidade à luz, lacrimejamento e coceira. A cirurgia deve ser decidida o mais depressa possível, pois a perda visual pela hipertensão é rápida na criança. A manutenção da visão residual dependerá do completo controle da pressão intra-ocular. Nos casos mais avançados (quando o olho fica muito grande), existe o perigo de perfuração, se houver traumatismos. Para a criança executar trabalhos de perto, será necessária muita iluminação com pouco reflexo.

3) Doenças hereditárias: albinismo, anomalias na retina, córnea, íris, mácula,  nervo óptico e altas miopias.

4) Conjuntivite gonacócica: ocorre quando a mãe apresenta uma doença venérea (a gonorreia) e a transmite ao filho durante o parto normal. Se o recém-nascido não for devidamente tratado logo ao nascer, o microorganismo pode levar a uma úlcera de córnea ou mesmo à perfuração ocular, resultando em baixa da visão ou cegueira.

5) Toxoplasmose: quando a mãe se infectar durante a gravidez, essa infecção pode passar para o feto. Os agentes transmissores estão nas fezes do cachorro, gato, aves e na carne de porco. A acuidade visual estará muito comprometida quando a lesão for na mácula.

6) Neurite óptica: inflamação do nervo óptico do recém-nascido, associada geralmente à presença na mãe de anemia, subnutrição, diabetes ou uso de drogas. Pode levar à cegueira ou à visão deficiente.

7) Retinopatia do recém-nascido (Fibroplasia Retrolental): ocorre nos bebés prematuros expostos à aplicação de oxigénio. Provoca o aparecimento de uma massa fibrosa na região da retina que pode levar ao seu deslocamento. Geralmente acarreta visão muito baixa.

Para aqueles que têm uma visão útil, lentes de aumento e telescópicas ajudarão a eficiência visual para perto e para longe, com auxílio de foco de luz forte nas tarefas para perto.

8) Retinose pigmentar: doença hereditária cujos sintomas em geral se manifestam no jovem. Trata-se de uma degeneração da retina que começa na periferia e lentamente compromete também a visão central. Até ao momento não há cura e tende a levar à cegueira na quinta ou sexta década de vida.

Observação: Os olhos de algumas crianças portadoras de baixa visão podem ter movimentos rápidos de um lado para o outro. Esses movimentos são chamados de "nistagmo" ou "nistagmus". O nistagmo quase sempre é um sintoma de desordem neurológica e indica que seu portador deve ter também desordens no sistema visual.

Qualquer doença ocular que cause baixa visão é contagiosa?
A não ser as conjuntivites bacteriana e viral, as demais doenças não podem ser transmitidas por contacto directo.


3.ª parte:
Acuidade visual

O que são a visão central e visão periférica? E acuidade visual? E campo visual?

Visão central é aquela na qual a imagem cai no centro da retina, em uma área chamada mácula, e essa visão é cheia de detalhes. É importante na leitura para perto, para longe e nas actividades que exigem percepção de detalhes.

Visão periférica é aquela que se forma fora da mácula, na periferia da retina. Essa visão é pouco rica em detalhes; percebe-se a presença dos objectos e movimentos, mas nada nítido. É importante para se locomover, principalmente à noite (com pouca iluminação).

Acuidade visual é a capacidade visual de cada olho (monocular) ou dos dois olhos em conjunto (binocular).

Campo visual é toda a área que abrange sua visão, sem movimentar os olhos.

Qual é o desenvolvimento normal da visão e o que pode prejudicá-lo?

Para haver desenvolvimento normal da visão, é importante:

1) Que a imagem do objecto focado chegue nítida à retina. Para isso não pode haver lesão ou alteração de transparência da córnea, pupila, íris, vítreo ou retina, o que alteraria ou bloquearia a imagem. Que o olho seja de tamanho normal (imagens focando na retina).

2) O nervo óptico não pode estar atrofiado e não deverá haver lesões na via óptica que leva a imagem até o cérebro.

3) O cérebro deve ser capaz de interpretar a imagem recebida. Para isso, não poderão ocorrer alterações cerebrais de ordem anatómica ou mesmo mentais.

O recém-nascido enxerga tanto quanto fala ou anda. Se todas as partes do olho estiverem em perfeita ordem e o cérebro for estimulado com imagens nítidas, desenvolverá a visão normalmente, chegando ao seu pleno desenvolvimento entre os 5 e 7 anos de idade. Assim, o adulto que enxerga pouco desde o nascimento continuará enxergando mal sempre, não havendo nenhuma cirurgia ou tratamento que solucione o problema.

O que continua a melhorar é a capacidade de interpretar o que o cérebro "vê". Assim como um radiologista é treinado para entender imagens escuras de uma radiografia (ele vê uma radiografia igual a todas as pessoas, porém interpreta muito mais coisas graças ao seu treino e experiência), quem tem baixa visão deve ser estimulado a treinar sua capacidade de "entender" o que vê.

Desenvolvimento da visão

Nascimento: o recém-nascido só percebe luz, pois a mácula ainda não está totalmente desenvolvida e o cérebro ainda não sabe interpretar os estímulos visuais que recebe.

Aos três meses: Já consegue fixar, pois a área macular está estruturada. Consegue seguir um objecto com o olhar.

Aos nove meses: inicia-se a visão de relevo; já consegue ter noção de distância e de formas.

Com um ano: as crianças já reconhecem objectos e parentes próximos a ela.

Aos quatro anos: visão quase completa.

Aos cinco anos: visão igual a do adulto, podendo melhorar até os 7 anos de idade.

Como enxerga a criança com baixa visão?
A criança com baixa visão enxerga pouco, mesmo com o uso de óculos. A criança que tem baixa visão deve ser estimulada a usar a visão residual (que resta) ao máximo. Ela não é cega e não deve ser tratada como tal.

Visão normal Catarata

Lesão na visão central Glaucoma

O que são: hipermetropia, miopia e astigmatismo?

1) Hipermetropia: o olho é menor do que o normal e a imagem forma-se atrás da retina. Os hipermétropes têm dificuldade em enxergar de perto, e necessitam de um esforço maior para acomodar a imagem na retina.

Características dos hipermétropes: é comum aos portadores de hipermetropia que não usam óculos terem dores de cabeça, tonturas e cansaço visual, principalmente se estiverem lendo, escrevendo, pintando ou brincando com objectos próximos dos olhos. Geralmente são crianças mais dispersivas, que dão preferência a brincadeiras ao ar livre.

2) Miopia: quando o olho é maior do que o normal e a imagem se forma num ponto anterior à retina. A dificuldade é ver nitidamente à distância.

Características dos míopes: geralmente, os míopes apertam os olhos para ver melhor, e costumam aproximar os objectos para bem perto dos olhos. As crianças portadoras de miopia, que não usam óculos, normalmente são mais tímidas, preferindo actividades como leitura, pintura ou brincadeiras próximas das mãos, do que ao ar livre e à distância.

3) Astigmatismo: quando a córnea não é esférica, isto é, sua curvatura difere de um ponto para o outro, a imagem formada na retina será distorcida. Exemplo: a córnea sem astigmatismo é semelhante a uma bola de futebol cortada ao meio; já uma córnea com astigmatismo é semelhante a uma bola de futebol americano, que é oval. O astigmatismo pode estar associado à miopia ou à hipermetropia.

Características dos astigmatas: os portadores de astigmatismo, quando não usam óculos, podem apresentar dores de cabeça, ardor ocular e olhos vermelhos aos esforços visuais para perto e longe.

Observação: Chama-se ambliopia ou "olho preguiçoso à baixa visual em um ou nos dois olhos, apesar do fundo do olho ser normal. Quase sempre pode ser prevenida e tratada. Suas causas mais comuns são o estrabismo (olho vesgo, torto), grande diferença entre o grau de um olho e outro, e alta miopia, hipermetropia ou astigmatismo.


Excerto da obra "Entendendo a baixa visão - orientação aos professores"
Autores: Regina Oliveira, Newton Kara-José e Marcos Wilson
Projecto Nacional para Alunos com Baixa Visão - pnaBV
Secretaria de Educação Especial - Ministério da Educação - Brasília, 2000

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